quinta-feira, 20 de junho de 2024

Pequenas Crônicas da minha terra (9) - Cachoeira da Praia Grande

 





Uma cachoeira em plena praia. Que espetáculo fascinante

Durante cerca de quase 3 décadas, moradores e turistas que iam a praia grande, tinham a alegria de ver  uma queda d’água entre as pedras fazendo um visual maravilhoso.

Geralmente gelada,  o impacto da água sobre o corpo trazia em sensação  única de prazer e felicidade. e na alta temporada era até difícil de conseguir um espaço para saborear essa sensação.

Para completar, essa queda d’água provocava um pequeno riacho que desembocava a beira mar. Se a cachoeira era o local preferidos dos adolescentes, jovens e adultos, o pequeno córrego de água salgada sempre era frequentado por dezenas de crianças, que aproveitavam para construir seus castelos e  para deslizar num escorrego infantil.

Para os que não sabiam,, sempre ficava a interrogação: como assim? Uma cachoeira salgada? de onde vem essa água?

Acontece que no lado esquerdo da praia,,  uma indústria que havia em nossa cidade, a Companhia Nacional de Álcalis, retirava  água do mar através de possantes bombas para refrigerar os maquinários  da empresa.. Essa água era transportada através da calha até ser dividida em 3 tubulações que levava até a indústria..

Geralmente  as bombas puxavam mais águas do que a necessidade da empresa, então havia uma tubulação de saída  do excesso (um ladrão) .  essa  tubulação jogava essa água sobre as pedras, dando início assim a nossa cachoeira.. Quanto mais sobrava água, maios era o volume da cachoeira.

Infelizmente, com o fechamento da empresa, ficamos sem a nossa cachoeira, que embora fosse artificial,  era um grande atrativo de nossa cidade.


terça-feira, 18 de junho de 2024

Pequenas crônicas da minha terra (8) Imbetiba


 

Você conhece a história do naufrágio desse navio?

Praia Grande, no canto esquerdo, há uma sombra escura nas águas transparentes. Algo que nos traz imaginar  como um navio de porte médio veio ficar preso nas areias brancas de nossa praia

Por traz dessa imagem que contemplamos sempre que vamos a essa praia há uma história de uma noite misteriosa.

Em pleno século XIX, no dia 10 de setembro de 1881, zarpa do porto do Rio de janeiro, capital do Brasil Imperial o navio a  vapor Imbetiba com destino ao porto de Imbetiba, em Macaé e depois  seguiria viagem para Campos.

À noite, um forte nevoeiro obrigou a embarcação a navegar “às cegas e pouco antes da meia-noite o navio ficou preso em um banco de areia junto à Praia de Massambaba. Como não havia danos na estrutura do navio, a tripulação ainda lançou parte da carga ao mar e conseguiu remover o navio e seguir. Porém, pouco depois, o embarcação voltou a encalhar, agora em definitivo.

Quando a cerração dissipou, o comandante e os tripulantes perceberam que estavam presos a pouco metros da praia  e ordenou que todos desembarcassem, levando as bagagens e o restante das cargas.

Dois navios vieram para socorrer o Imbetiba, mas não era mais possível , visto que ele já estava com parte da ferragem encobertas pela areia.

Hoje, mais de século depois, o Imbetiba faz parte da beleza da Praia Grande. Tem período que fica quase todo escondido; mas logo vem a maré, a ressaca, o vaivém das ondas e ele fica a mostra, como se quisesse contar a sua história.

sexta-feira, 24 de maio de 2024

Pequenas crônicas de minha terra (7) - Um trem na nossa cidade

 


 

Pequenas crônicas de minha terra (7)

Um trem na nossa cidade

         Na primeira metade do século passado, a nossa região (dos Lagos) tinha como principal fator de desenvolvimento a extração de sal. Havia uma grande necessidade de fazer um escoamento mais rápido.

         Paralelo a isso,  na pequena vila do Arraial do Cabo havia um local ideal para haver esse escoamento via navio no “pontão” do forno, na enseada dos Anjos.

         Em 1929, a Perynas, na época a principal indústria salineira do país, tendo à frente Miguel Couto (futuro Governador e Senador fluminense), obtém o direito de utilizar o porto do Forno.

Para isso é feito um grande investimento, construindo uma estrada de ferro partindo da raia do Forno se dirigindo a Ponta das Perynas na lagoa de Araruama  e com pequenos ramais para a Ponta de Massambaba e Ponta da Costa.

Assim, em média 3 vezes por semana, sem horário físico, um trem a vapor, composto de 3 vagões, carregando toneladas de sal. Esse trem cortava a pequena cidade soltando vapor e faíscas das madeiras queimadas nas caldeiras. E essas faíscas eram um verdadeiro tormento para os moradores vizinhos a estrada férrea.

Acontece que no Arraial havia muitas casas eram de pau a pique, com o telhado de uma espécie de palha retirada em áreas úmidas da restinga. e as faíscas, ao cair nesse telhado, provocava incêndio . Para completar, a água era muito escassa.

Assim sendo, era comum os moradores deixarem latas d’água a frente de casa para um socorro mais imediato. Como não tinha um horário fixo, o jeito era deitar perto dos trilhos, encostando o ouvido, para escutar se havia trem chegando. quem ouvisse, saía a gritar “O trem está chegando, o trem está chegando” e tomavam posições, “armados com as suas latas para defender suas casas.

Hoje, não temos mais sinais dessa linha de ferro.


quarta-feira, 22 de maio de 2024

Pequenas crônicas de minha terra (6) Porto do forno

 





Pequenas crônicas de minha terra (6)

Porto do Forno

            Lembranças de  que durante a minha adolescência na década de 70, aos domingos à tarde, saiamos em pequenos grupos para o “cais”, poie era um dia permitido de ser visitar os navios. Era tudo muito limpo e organizado e um tripulante, vestido como marinheiro, nos acompanhava a falar sobre o navio, a bussola, o leme, a importância do transporte naval.

            O porto do Forno (nosso antigo cais) está preste a completar 100 anos. O que era um pequeno cais de embarque e desembarque de pescadores, primeiro se transformou num espaço de barcos maiores para levar o pescado para a capital da república e outras cidades.

Depois, como o desenvolvimento das salinas na nossa região, se transformou no ponto final da saída do “ouro branco” para as outras cidades.  Foi algo que cresceu tanto que nos anos 30, foi construída uma estrada de ferro, onde um trem fazia o Perynas até o porto, facilitando assim o escoamento da produção.

Nos anos 50, foi pelo porto que toneladas de máquinas vinham da Europa para a implantação da Companhia Nacional de Álcalis, exigindo para isso melhorias para receber grandes navios.  Depois, foi sempre uma parceira importante na indústria, tendo um grande fluxo.

Algo que mexia com  a rotina da cidade era ouvir os apitos do navio chegando,  pois era um atrativo para a pequena cidade ver aquela grandes embarcações se aproximar e atracar no cais.

Essas lembranças  me fazem ter a noção que o Porto do forno, o nosso cais, era algo muito mais nosso. Tínhamos uma espécie d sentimento de pertencimento que, infelizmente, fomos perdendo com o tempo.

Hoje, parece que o porto está no Arraial... mas não é nosso.


Pequenas crônicas de minha terra (5) Sal – O ouro branco

 



Pequenas crônicas de minha terra (5)

Sal – O ouro branco

            Somos  fruto de uma aldeia de pescadores. Essa é a nossa vocação embrionária.  Mas paralela a essa vocação, muitos moradores  do Arraial do Cabo, assim como de toda a Região dos Lagos, teve a extração do sal como uma maneira digna de, com o suor do corpo, trazer o sustento para a família.

            E foi através dessa extração do Sal que a região teve os primeiros sinais de desenvolvimentos, pois saia de nossa região tonelada de sal para abastecer os grandes centros comerciais do Rio de Janeiro e de São Paulo.

            Entre esses primeiros sinais de desenvolvimentos, podemos dar como exemplo a construção do Porto do Forno, localizado em um local estratégico e a chegada de uma linha de trem que recebia o sal dos armazéns e traziam até barcos (navios) para um transporte mais eficaz.

            Nas décadas de 70 e 80 teve início a queda dessa atividade econômica e hoje restam poucas salinas em nossa região, sendo uma na região de Figueira.

            Interessante lembrarmos que a empresa de transporte de ônibus que atende a nossa região se chama Salineira, pois serve as nossas antigas salinas transformadas em bairros e em municípios.

            O grande ícone desse tempo não são os lindos moinhos nem as belas quadras brancas. São os SALINEIROS, brava gente de nossa região que com suor e trabalho digno, ajudaram no crescimento de nossas cidades


Pequenas crônicas de minha terra (4) - O TELEGRAFO DO CABO

 







Pequenas crônicas de minha terra – 4

O telegrafo do Cabo

Muito antes da construção do FAROL VELHO, em um dos pontos mais altos do Pontal do Atalaia,  em um mirante natural, foi erguida uma construção  para funcionamento de um Telegrafo.

Em um local estratégico, pois a visão do local é bastante ampla, podendo avistar navios e barcos a distância. O telegrafo tinha a função de se comunicar com as embarcações  através de um código de bandeiras, como também de enviar mensagens para outros observatórios.

Assim eram monitoradas as embarcações que apareciam por todo   nosso litoral, e com certeza, os piratas e os invasores eram descobertos com certa antecedência.

Podemos viajar no tempo e imaginar o trabalhador  no silencio do mirante, a observar o mar, em dias de calmarias e em dias de tormentas, a procurar um ponto diferente no horizonte e observa-lo até se aproximar mais e se dar a conhecer.

Hoje, desse local, só restam histórias e uma imagem da ruína.


segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Pequenas crônicas da minha terra 3 - O bicho do Cabo

 


O bicho do Cabo

Existe na literatura brasileira uma história contada em 1854 pelo escritor cabofriense Teixeira e Souza, primeiro romancista brasileiro, em seu livro Providência, que faz menção a um acontecimento em nossa região entre os anos de 1819 e 1820.

Nessa época uma terrível seca afligiu cabo frio e todo o seu contorno.  Esta seca foi tão rigorosa que não só fez secar a quase todos os pântanos e lagoas que nunca secaram, como fendeu o solo até grande profundidade. E esse acontecimento coincidiu com  aparição de um animal marinho até então desconhecido, fazendo com que o povo ligasse a seca com aparição.

Perto de Cabo frio, há três léguas, existia um pequeno arraial, que era chamado simplesmente “o Cabo”. E como era nas praias desse local que aparecia esse anfíbio, o povo lhe chamava de “o bicho do Cabo”. O povo dizia que esse animal era muito feio, porém nunca fez mal a pessoa alguma, e que as vezes ele foge da presença humana.

Um dia, esse pobre bruto envolveu-se numa rede dos pescadores, e esses, por sentirem grande pavor, o mataram a pauladas e fisgadas. Enquanto apanhava, o coitado soltava gritos como os humanos. Depois de morto, cortaram uma das mãos e andaram mostrando pela cidade.

Atribuía-se a esse animal coisas extraordinárias e por incrível que pareça, após essa fatalidade, veio uma forte chuva  na região, acabando com a seca e fortalecendo a crença que tudo era causa do bicho de Cabo.

Pequenas crônicas da minha terra 2 - Somos Arraial e Cabo


 A nossa referência

As vezes ficamos a pensar sobre o nome de nossa cidade. E entendemos que não poderia haver nome mais esclarecedor sobre nossa localização e nossa origem. Lembro que na época da emancipação, algumas pessoas deram a ideia de trocar o nome. Alguém até sugeriu Cidade do Cabo. Ainda bem que não trocaram. Afinal tivemos origem e ficamos por alguns séculos como um simples arraial na pontinha de um distante cabo, praticamente dentro do mar

Arraial é uma palavra de origem portuguesa que significa acampamento ou lugar onde se acampa. No Brasil, o termo é utilizado para se referir a pequenas vilas ou povoados que surgiram a partir da união de grupos de pessoas em torno de uma atividade econômica, como a mineração, a agricultura e, no nosso caso com a pesca.

Por sua vez, Cabo é um acidente geográfico formado por uma massa de terra que se estende adento de um oceano ou mar. Muitas vezes essa extensão de terra exerce influências sobre correntes costeiras e outras características oceanográficas.

Assim somos, por natureza, um povoado mar adentro, uma pequena vila a beira-mar, uma aldeia de pescadores ou sintetizando, um Arraial do Cabo. Interessante que a preposição “do” nos fornece uma ideia de pertencimento. Pertencemos a esse local. Pertencemos a essas praias de areias brancas, a esse marzão de águas frias. Temos em nossa pele as marcas do vento, das brisas, respiramos esse cheiro de mar

Somos um Arraial no Cabo.